quinta-feira, 28 de maio de 2009

DESERTO DO JALAPAO

Serra em Tocantins - a caminho do deserto

Deserto do Jalapao

Desde que surgiu a idéia de ir para o deserto do Jalapão, todos imaginamos a estereotipada cena: quilômetros e quilômetros de areia, um visual amarelado, sede, sede e mais sede e um sol de quebrar o coco sobre nossas cabeças. Qual não foi a surpresa ao encontrar um verde exuberante, chuvas constantes e muita, muita, mas muita água! A região é considerada desértica sim, mas pela densidade demográfica: cerca de 0,8 pessoa por Km2! Algumas das expectativas foram confirmadas: sem dúvida nos fogem palavras para explicar a beleza e excentricidade do local, com suas misturas de dunas, montanhas, cachoeiras que variavam entre um verde esmeralda e um azul turquesa, tucanos, buritis... Sem contar os fervedouros, nascentes borbulhantes em forma de pequenos lagos onde acabamos por flutuar em uma mistura de água e areia finíssima... Dificílimo explicar.


Fervedouro - Deserto do Jalapao


Fervedouro - onde nunca se afunda



A região passou a ser considerada Parque Estadual, devido ao turismo que vem se intensificando nos últimos anos. Mas é um turismo gringo, elitizado, feito de pacotes e tours fechados por agencias turísticas de Palmas e São Paulo, ao estilo safári africano. Realmente o acesso á região é difícil, e não pudemos fazer vários passeios porque só um 4x4 aguentaria o tranco. De atrevidos, resolvemos arriscar: com a Doblô, seguimos o caminho que leva á Cachoeira da Formiga, onde íamos acampar. Atolamos, claro. E feio...

Piau e Lucas tentando tirar o carro do atoleiro




Povoado de Mumbuca – Deserto do Jalapão, Tocantins.


Povoado Mumbuca


Mumbuca: Nome de uma abelha muito comum na região quando o primeiro morador da comunidade - filho de escravo que fugia da fome e da seca baiana – aqui chegou. Já no Cerrado Tocantinense, laçou uma índia que em cima de um burrinho passava e com ela se assentou, no coração do Jalapao. Isso “tá pra mais de cem anos...” como afirmam os seus descendentes afro-indígenas, com quem tivemos o imenso prazer de conviver durante breves dois dias de permanência no povoado.





Familia de Neide



Hoje, a 7 geração já está vivendo em Mumbuca, mantendo-se basicamente da plantação de arroz, mandioca e milho, da criação de poucos gados e galinhas e, principalmente, do artesanato feito com o Capim Dourado, tipo de capim originário da região que trançado em formas várias parecem bolsas, brincos e colares trabalhados em fios de ouro.
Aliás, segundo os moradores, teria sido ali mesmo em Mumbuca que a arte do capim dourado teria surgido. Atualmente, não apenas Mumbuca como outros povoados vizinhos são sustentados, basicamente, da venda deste artesanado, normalmente comprado dos artesãos tocantinenses a preços irrisórios e vendido a preços exorbitantes em lojas de grifes de São Paulo.


A princípio, a idéia era apenas passar um dia na comunidade. Mas logo fizemos amizade com os moradores, que perguntaram ao Piau se podíamos ficar para ajudar a redigir um documento reivindicativo, resultado da reunião que estava marcada com todos os moradores na pracinha as 19hs. Ficamos e fomos para a reunião, onde se misturavam ânimos exaltados, gargalhadas constantes e discursos de líderes em tom pastoral.


O motivo da reunião era um restaurante em Palmas, que estava utilizando – sem autorização - o nome de “Mumbuca Bar e Restaurante” além de fotos de moradores em seu material de divulgação. Alem disso, no folder de estréia do restaurante estava escrito que parte da renda obtida com a venda do prato “Capim Dourado” seria revertida para a comunidade, verba esta que, obviamente, nunca chegou ao povoado...

Neide muito obrigado pelo carinho, seu e de sua família.



Ajudamos na redação do documento, e a comunidade ficou imensamente agradecida pela nossa presença. Desmesuradamente agradecida, poderíamos dizer...Mal sabem eles o quanto fomos nós que nos sentimos beneficiados pela experiência. Pelo carinho com que fomos recebidos, pelos banhos de rio, pela prosa com Dona Laurentina, pelo café sem açúcar e a janta da Neide, pela música oferecida pela Ana Cláudia, pelas brincadeiras com as crianças, pela rapadura, pelo pouso no pátio da Associação.....


Em outro fervedouro com amigos da comunidade Mumbuca


Uma deliciosa comidinha caseira na Casa de Neide



Camila e Lucas brincando como e com as crianças





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