sexta-feira, 19 de junho de 2009
Refúgios, Cirandas e Parabéns!
Durante três meses, a “mineiro-carioca” trabalhou no Ponto de Cultura Estrela de Lia, na Ilha de Itamaracá, junto ás filhas e netas do Mestre Baracho, um dos maiores tocadores de Rabeca de Pernambuco, falecido em 1988. Construíram, coletivamente , uma “opereta de brincadeiras de roda”, cuja apresentação fomos assitir, lá na Ilha da cirandeira mais famosa que há.
Itamaracá!
Lia estava lá e fez uma participação na brincadeira de Cíntia, assim como o mestre da rabeca Luis Paixão, que também finalizava sua oficina de rabeca e Cavalo Marinho no Ponto de Cultura.
Um belo fim de tarde, uma ciranda bonita, uma surpresa ao conhecer o Cavalo Marinho (eita, dança difícil!).
"Lia, ô Lia...Lia de Itamaracá" . Ponto de Cultura Estrela de Lia
Cíntia com as "meninas do Baracho"
Cavalo Marinho
Brincante brincando
Foi um belo momento para iniciar a comemoração do aniversário do Piau (que comemorou a virada do aniversário, do dia 30 para o dia 31 de maio, comendo bolo com as mãos enquanto dirigia, em plena BR 116 que liga Itamaracá á Olinda)Piau no quarto "parabéns" da noite, já faltando parte do bolo!
Piau, no décimo quarto parabéns da noite, no forró do Bar do Déu (fotinho enviada pela dona do bar)
Um pouco de Diário de Bordo
Recife e o Reencontro com Urbano
Agradeço, por todos da equipe, ás pessoas que gentilmente nos hospedaram em Recife. Á Bete, por receber o Lucas (que chegou pintado de jenipapo, de chapéu de palha e com um arco e uma flecha gigantes na mão!). Ao Osvaldo e ao Rodrigo, que hospedaram uma Camila Krahó e permitiram uma série de jantinhas e reuniões gostosas no ap., além de permitir que ela voltasse á Bauru com sua mala de roupas limpas e cheirosas! A Inês e Leimar, pais do Diogo (grande amigo de Piau, que está em Barcelona), que além de Recife também nos hospedaram (luxuosamente!) no São João de Campina Grande. E, por fim, a minha queridíssima amiga de bons e irresponsáveis tempos (eita, colegialzao!!) Daliane, Lua e Rodolfo (e Floquinho !!)
A família me recebeu já com mil programações, dicas turísticas, coisa e tal...E se surpreenderam com o fato de, nos primeiros dias, eu insistir em ficar em casa vendo filminhos ao invés de ir bater perna no Recife antigo ou tomar um sol em Boa Viagem... !
É que a experiência da aldeia foi, claro, incrível. Tanto que levará um tempo para ser assimilada em sua totalidade, seus significados, suas rupturas e transformações. Auto e sócio-críticas, deparar-se com o que de mais humano há em nós e nos outros, sentir o estranhamento e o encantamento com o diferente...Mas também houve um processo de valorização de elementos culturais e pequenos prazeres que são parte do nosso cotidiano. Elementos já tão naturalizados que quase esquecemos o quão culturais eles são.
Por isso que chegar a Recife significou - mais do que uma profunda imersão no Maracatu e no Mangue Beat - dormir em uma caminha cheirosa, internet, dvd, cozinha limpinha cheia de guloseimas gostosas, máquina de lavar e (mais do que tudo, talvez) o banheiro, esse templo dos rituais sagrados diários!!!
Coisas simples mas que, se ficamos um período sem usufruir, tornan-se prazeres imensuráveis... Recife teve, portanto, muito deste significado. Descanso! Do rústico, da estrada, do "perrengue", de cada um de nós em relação aos outros...
Relembramos a vaidade (barbas e cabelos foram cortados, unhas e sobrancelhas feitas, pernas depiladas).Relembramos os deliciosos besteiróis urbanos como o chocolate, o sorvete do Mac Donald´s (ah, confessei!!!), o parquinho, o cinema com pipoca!
Claro que também fomos ao Recife Antigo, á Terça Negra na Praça São Pedro, ao Instituto Brennand, á Boa Viagem...Mas, definitivamente, mais do que isso, Recife significou um reencontro com o urbano, com a comodidade, com os confortos (hiper) modernos.
Reencontro interessante também porque nos permitiu uma sensação de choque cultural mais forte do que se tivéssemos continuado no sertão ao sair da aldeia. E também porque valorizar “o mundo de cá” (já que, enfim, não somos indígenas e não moramos na aldeia) diminui a sensação de perda de algo, o conflito interno, uma certa tristeza por ir embora de um lugar onde a vida – apesar de difícil – é tão mais natural, livre e cheia de risos...Estas sensações ficam mais tênues ao nos encantarmos com os elementos da cidade.
Encantamento este que, diga-se de passagem, o engarrafamento quilométrico (com seus xingamentos e buzinas constantes), o cheiro do esgoto a céu aberto, o carro quebrado e rebocado, e a televisão e seus sensacionalismos fizeram ir diminuindo.... E fez com que fossemos buscar a paz: em Olinda!
Bru
Despedida da Gran, no famoso 4º andar dos "meninos"!
Piau em um momento pouco "Artista Intelectual Pesquisador de Cultura Popular"...!
Doblô à espera de um reboque, parando o insano trânsito de Recife,bem as 18.30hs !
Chuva?Onde?
Pensamos em um outdoor para amantes da gastronomia marítima assim:
"Vem! Vem pra Recife você também, Vem!!!
OLINDA
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Pequeno dicionário de Palavras e Expressões Tateiotá:
Adoro! – Significa Adoro mesmo.Só que utilizado de forma contínua e muitas vezes em situações inimaginadas.Origem: algum lugar de Bauru, embora tenha sido Grandona a ganhar fama e dinheiro com o sucesso da expressão.
Bin li! - É bem ali! Normalmente não é bem ali, é longe pra caralho. Se vier acompanhado de uma levantada de queixo, então, esquece que é impossível chegar. Origem: TO.
Bolinha de Queijo - Quando a pessoa está em sua fase bolinha de queijo, ela está na fase “Acho que tô a fim de você...”Também faz parte desta série os termos “Coxinha”, que significa “Tô apaixonadão!!!”, seguida do termo extremo "Bolovo" - que significa “Tô fodido, babando, não vivo mais sem você”. Expressões surgidas na bela Cordeirópolis e ao longo da experiência empírica do Tateiotá.
É ninhúuma! - “Não dá nada não, fica tranqüilo”. Origem: íamos colocar Tocantins. Mas, como afirma nosso amigo Ronaldo, nada tem origem em Tocantins porque, afinal, ninguém é de Tocantins! Assim que, após intensa pesquisa semiológica, descobrimos que a origem do termo é mesmo baiana.
“É...é di Deus!...” – acompanha um apertao de boca e uma virada de olhos. Significa "nao poso fazer nada..."
Fuderoso! - Hipérbole de “Foda”. Criada no Ponto de Cultura Coco de Umbigada
Hipérbole: Palavra Fuderosa.
"Inpéi?" pergunta-se, e "Inpéi!" reponde-se. - Comprimento Krahó que significa "- E aí, beleza?! "- Beleza!".
Kisuki - Ki-suco! Orígem soterojaponesa.Me erra!- Equivalente á “Sai do meu pé, chulé!”. Origem: Desconhecida.
Molinho – Coxinha. Mas só o Will, de Recife, conhecia.
Rapariga - Mocinha, para os ingênuos. Mulher da vida, para o resto.
Rhümn! - Um ruído feito na garganta, bem rapidinho, que não deve chegar a ser exteriorizado. Utilizado em momentos de intensa desconfiança e incredulidade, como um rápido "Sei"!!. Origem “Mejin” (indígena).
Uhá!: a expressão kalunga, já explicada em um post anterior, composta por um ruído meio estranho cujo significado é algo entre um “Oi” e um “Uai”!
Tchutchutchuuuuu... – gente bonita, clima de paquera. Orígem: um dia de tédio. Seguem variações:
Hummm...Tchu Tchu Tchu! (seguido de olhares sarcásticos ) significa “ Sei...tô sacando o que você ta querendo....”. Tem também o :
Tchu tchu tchu; Tchu Tchu Tchu; Tchu Tchu Tchu !!!!!!!!! (seguidos de dançinha própria) – Significa Eba! Rolou!! Ou: Eba! tá rolando! Ou: Eba!!Vai rolar!
Visse?! - “Tá ligado, mano?!”. Definitivamente tem sua orígem, desenvolvimento e eterna perpetuaçao em Pernambuco.
Sambadando!!!!
Já a 11 anos acontece no bairro de Guadalupe, em Olinda, a Sambada, uma grande festa onde vários mestres da cultura popular vem para tocar e cantar o coco. Até pouco tempo atrás, o público dançava e acompanhava os mestres desde sábado a noitinha até a manha do domingo no primeiro fim de semana de cada mês. Mas pra variar, com esta ditadura do sono que as autoridades estão impondo à nós, amantes da "boemia cultural", este ano a sambada encurtou, e está terminando por volta da meia noite.
Foi esta lei que justificou a invasão de mais de quarenta policiais fardados na sambada de fevereiro deste ano. Ouvimos, chocados, o relato de Mãe Beth de Oxum sobre o problema que teve com a policia do bairro de Guadalupe, em Olinda, onde a sambada – e o ponto de cultura – acontecem. Em dezembro de 2008, um policial que vivia encrencando com o batuque passa embriagado no meio da sambada e atira. Por sorte ninguém se machucou, e Bete deu parte na polícia.
Na sambada de fevereiro, quando grupo infantil Coco de Umbigadinha se preparava pra apresentar, os policiais chegam pra acabar com a festa. Tomram, agressivamente, os instrumentos das mãos das crianças e queriam levar mãe Beth presa pra delegacia. Protegida pela vaia do público que ali se encontrava, mãe bete conseguiu se refugiar no Centro Cultural, onde os policiais não tinham mandato pra entrar. Os instrumentos foram pra delegacia, inclusive a zabumba centenária que pertenceu ao avô do marido de Beth, família que leva o coco como tradição a muito tempo.
Bete de Oxum
“Você já viu um piano ser confiscado pela polícia?” Diz Beth, sobre o dia em que a polícia tomou a força a zabumba das mãos de seu filho de 13 anos e jogou em um deposito da delegacia de Olinda.
“ Como a gente passa a vida ensinando os meninos a valorizarem nossa espiritualidade, nossa ancestralidade, nossos instrumentos e vem a policia e confisca tudo?(...) A gente não é marginal não, é cidadão...(...)
Quebrando o coco com Mãe Bete de Oxum
Aqui, o “Ponto” é constituído por uma Rádio Livre, um Centro Digital e o trabalho com a tradição do Coco.
Com uma programação diária bem diversificada, mas que prima pelas músicas de tradição afro (cocos, sambas, rumbas) a Radio Livre Amnésia - 88.5 surgiu a um ano e meio atrás, quando um grupo de amigos da área da Comunicação se uniram pra gravar os mestres de coco do entorno. A experiência deu certo, a verba pública entrou e hoje a rádio está se expandindo.Também se expandem as atividades do Centro Digital, onde o pessoal da comunidade aprende desde o básico da computação e da internet mas também se aprofundam em discussões mais ousadas como o uso do software livre.
Quanto ás atividades relacionadas ao coco, oficinas de percussão, de música e dança, assim como encontros de mestres e “brincantes” acontecem semanalmente. Delicioso foi participar de um dos batuques da terça, onde além da Mãe Bete tivemos o privilégio de ouvir cantar Mestre Pombo Roxo, um dos ogans (os tocadores de tambores das casas de candomblé) mais velhos de Olinda.
Segundo Mãe Bete, o coco tem sua origem na tradição religiosa afro-indígena chamada Jurema, onde entidades africanas como yemanja e oxalá se misturam á caboclos. O coco, conhecido também na Jurema pelo nome de “mazuca”, seria o lado mais cultural, mais profano da Jurema sagrada.Inclusive uma das entidades da Jurema, o Mané Quebra Pedra, quando “desce”, pede que toquem um coco pra ele dançar.
Já aquela pisada forte que caracteriza a dança do coco, teria surgido do movimento de pisar o barro, numa época em que toda a comunidade era convidada a pisar o barro que serviria de base para a morada de algum casal
Historicamente criminalizado pelas autoridades brasileiras, como tantos outros elementos das tradições afro-indigenas, o coco é considerado uma brincadeira de velhos, adultos, e crianças, que Mãe Bete, e outros tantos “brincantes”, vem tentando fortalecer. O termo “brincante”, explica ela, é a denominação para aquela pessoa que resolve levar uma tradição popular como missão de vida. É o mestre, é o cantador...
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Onde temos dormido
Varanda da nossa casinha em olinda
Nossa casinha em Olinda no dia do aniversario de Piau
Aldeia Nova, Krahos, Goiatins, norte do Tocantins
Casa de campo em Palmas - TO, na beira da represa
Ginásio de esporte e galpão de feira em uma cidade no interior do Tocantins
Bar do Quinca e da Maria - Azuis, TO (ou GO ?)
Na casa da Rosana e do Luciano, primos/irmãos do Piau, Brasília - DF. Chamávamos de quintal da novela das oito
Em São Luiz do Paraitinga, no carnaval. Tentávamos dormir de vez enquando.
Na barra do Ribeira, Iguape -SP, casa cedido pelos amigos Wladi, Carmen e Bru, que depois se incorporaria na equipe. A barraca na cama para enfrentar os mosquitos.
Casa fantástica do Eric em Bauru - SP