quarta-feira, 10 de junho de 2009

Quebrando o coco com Mãe Bete de Oxum

Nem bem havíamos assimilado a incrível experiência vivida na aldeia Kraho e já estávamos comendo tapioca e dançando o coco e o afoxé em Recife e Olinda! Ainda com os corpos pintados de genipapo, cruzamos o Maranhão e o Piauí e chegamos no Estado de Pernambuco, onde está o Ponto de Cultura Coco de Umbigada, coordenado por Mãe Bete de Oxum e próximo objeto de estudo desta pesquisa itinerante.
Aqui, o “Ponto” é constituído por uma Rádio Livre, um Centro Digital e o trabalho com a tradição do Coco.
Com uma programação diária bem diversificada, mas que prima pelas músicas de tradição afro (cocos, sambas, rumbas) a Radio Livre Amnésia - 88.5 surgiu a um ano e meio atrás, quando um grupo de amigos da área da Comunicação se uniram pra gravar os mestres de coco do entorno. A experiência deu certo, a verba pública entrou e hoje a rádio está se expandindo.Também se expandem as atividades do Centro Digital, onde o pessoal da comunidade aprende desde o básico da computação e da internet mas também se aprofundam em discussões mais ousadas como o uso do software livre.
Quanto ás atividades relacionadas ao coco, oficinas de percussão, de música e dança, assim como encontros de mestres e “brincantes” acontecem semanalmente. Delicioso foi participar de um dos batuques da terça, onde além da Mãe Bete tivemos o privilégio de ouvir cantar Mestre Pombo Roxo, um dos ogans (os tocadores de tambores das casas de candomblé) mais velhos de Olinda.
Segundo Mãe Bete, o coco tem sua origem na tradição religiosa afro-indígena chamada Jurema, onde entidades africanas como yemanja e oxalá se misturam á caboclos. O coco, conhecido também na Jurema pelo nome de “mazuca”, seria o lado mais cultural, mais profano da Jurema sagrada.Inclusive uma das entidades da Jurema, o Mané Quebra Pedra, quando “desce”, pede que toquem um coco pra ele dançar.
Já aquela pisada forte que caracteriza a dança do coco, teria surgido do movimento de pisar o barro, numa época em que toda a comunidade era convidada a pisar o barro que serviria de base para a morada de algum casal
Historicamente criminalizado pelas autoridades brasileiras, como tantos outros elementos das tradições afro-indigenas, o coco é considerado uma brincadeira de velhos, adultos, e crianças, que Mãe Bete, e outros tantos “brincantes”, vem tentando fortalecer. O termo “brincante”, explica ela, é a denominação para aquela pessoa que resolve levar uma tradição popular como missão de vida. É o mestre, é o cantador...

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