quarta-feira, 22 de julho de 2009

Começando as finalizações, Iniciando conclusões...


Segue um trechinho do pré-projeto de mestrado “O Carimbó: Expressão de Identidade Cultural do Caboclo Amazonense”, engavetado em 2006 por motivos de confusões de ordem “psíquico-sócio-geográfico-emotiva” da autora!Escrevi o projeto em 2006, logo depois de voltar de Algodoal, no Pará, quando conheci -e me apaixonei - pelo Carimbó.


"(...)A relação das manifestações da cultura tradicional, das festas populares, com a religiosidade, as lendas e os mitos é uma das maiores características da cultura popular. Esta relação demonstra uma visão “holista” do mundo, na qual a natureza e a cultura, os mortos e os vivos, o mundo real e o mundo imaginário se relacionam de forma intensa. As festas e manifestações folclóricas reafirmam, portanto, um mundo encantado, opondo-se, dessa forma, à lógica racionalista da sociedade capitalista, na qual predominam os interesses de mercado e a busca pelo lucro, evidentes, por exemplo, nas festas oficiais e nos grandes eventos criados pela indústria cultural.
As manifestações da cultura tradicional, suas festas, músicas, danças, são parte de todo o modo de vida de uma comunidade. Ao analisar elementos da festa popular brasileiras no artigo "A Mensagem das Festas: Reflexões em torno do sistema ritual e da identidade brasileira” , Da Matta afirma que ela [...]
incita a um abandono do individualismo, quando pede proteção mágica contra um mundo que, ao contrário do que assegura o credo burguês, não é nem linear, nem racional [...] porque as festas negam o poder do mercado, do dinheiro, e da racionalidade capitalista que constrói os preços e o mundo."



Pois as experiências que pudemos vivenciar estes meses, acompanhando um cortejo de Folia de Reis, em Carolina, participando da Festa da Batata com os Krahó, na sambada do coco de umbigada em Olinda ou acompanhando o Bumba meu Boi do Maracanã na véspera de São João, em São Luis, confirmam esta citação de Da Matta.
O que vivenciamos ali, era algo que ia muito, muito além da lógica comercial à que estamos acostumados. Além desta relação com o encantado, o que observamos é que os valores de troca, da solidariedade, do respeito á natureza e aos ancestrais são, definitivamente, os valores predominantes.
Criar e fortalecer políticas públicas de produção, valorização e de conservação da cultura tradicional do nosso país significa, portanto, fortalecer também os valores que essas manifestações carregam e que são antagônicos à lógica do individualismo, do consumo e da depredação ecológica, predominantes na lógica racional capitalista hegemônica.
Célio Turino, Secretário de Cidadania Cultural do Minc, respondeu a Piau, quando este perguntou qual teria sido sua maior alegria com relação á implantação dos pontos: “(...) então essa abertura eu acho que foi... Entender assim, que tem outras formas de sensibilidade, inteligência, não só puramente racionais...”

E é isso mesmo. As mudanças vão acontecendo, aos poucos, mas vão acontecendo.
Quebrando paradigmas, preconceitos...
Quando uma mãe evangélica, da comunidade ao redor do ponto, pára de ter medo do “batuque” e deixa “até” a filha ir participar das atividades, há uma transformação. E quando um rapaz da classe média paulistana, acostumado a Raves e Discotecas, vai batucar um coco ao lado do mais velho ogãm de Olinda, também. Ou um diplomata do Itamaraty batendo matracas madrugada adentro junto a senhores do Bumba meu Boi, compartilhando com eles um vinho São Tomás...E também quando um professor universitário, um pesquisador, cheio de títulos vai num terreiro e quase morre de susto quando sente que ta “incorporando”! E quando, literalmente, nos despimos “pra banhá” no rio com os “kraré”, as crianças krahó...
Pequenos, pequenininhos exemplos que pudemos ver e viver, mas que, com certeza estão se multiplicando por aí, gerando – Graças a Deus! – um fluxo contínuo de transformações, um ciclo sem fim, intercâmbio de valores e idéias onde a abertura para este que é "outro" e que também somos nós, nos engrandece, emociona, modifica...

Bruna

4 comentários:

  1. Bruna, querida!
    Amei seu post... me senti uma de vcs aí vivenciando essas experiências!
    Bjo grande e boa caminhada!
    Binã

    ResponderExcluir
  2. Piau, Bruna e Lucas:
    Realmente apaixonante essa experiencia de vocês. Como já lhes falei, o tesouro de informações e vivencias catalogadas por vocês, além de contribuir com o mundo encantado da cultura tradicional, farão parte das suas lembranças, quando velhinhos, remontarão da memória esta aventura extraordinária.

    ResponderExcluir
  3. Que lindo Bruna, senti cada momento desse descrito e que pude viver ao lado de vcs em batidas fortes do meu coração,que honra fazer parte de um pedacinho dessa história. Beijosssss e Saudade!!!

    ResponderExcluir
  4. Binao, já falei o quanto desejariamos compartilhar mais que pelo blog com vcs... Inês, essa experiência, este tesouro, só foi possível porque encontramos os "anjos da estrada", como você, que nos ajudaram, acolheram e tiveram muita, mas muita paciência mesmo...rs !E Pri, que dizer de ti? Vc simplesmente nos apresentou o Maracana!Nos tirou do reviver e nos levou pra conhecer Sao Luís na "veia"... Valeu, gente!

    ResponderExcluir